Projetos Parceiros
Parcerias que transformam: No OBA, colaboramos com projetos que promovem a sustentabilidade e pesquisas científicas com impacto social, ético e integrador de saberes, gerando mudanças positivas para as comunidades e o meio ambiente.
Tecnologia e tradição de mãos dadas: Nossas parcerias fortalecem iniciativas que integram conhecimentos acadêmicos e saberes tradicionais dos povos originários da Amazônia.
Conectando propósitos, gerando impacto: Acreditamos no poder da colaboração para construir um futuro mais justo e ambientalmente responsável. Conheça nossos projetos parceiros!
O “Observatório Interinstitucional de Investigação em Cibercultura e Comunidades Indígenas” é um projeto conduzido em colaboração entre a UFPA, PUCSP e UFBA, com o intuito de acompanhar e analisar os processos sociológicos das comunidades indígenas no ciberespaço. A pesquisa é desenvolvida no Pará, coordenada pelas professoras Kalynka Cruz, Lucia Santaella e Denise Cardoso, e é contemplada pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
O objetivo principal do projeto é o desenvolvimento de um observatório científico de investigação em cibercultura para essas comunidades, focando na compreensão das dinâmicas presenciais e digitais de acesso e hábitos das comunidades indígenas investigadas. A proposta é baseada em um modelo participativo, onde as próprias comunidades estudadas poderão definir dinâmicas e instrumentos, para que possam se apropriar melhor do ciberespaço.
Isso reflete uma abordagem decolonial, destacando o protagonismo indígena e permitindo uma participação ativa das comunidades na pesquisa. O projeto também conta com a colaboração de universidades internacionais, como Purdue University (EUA) e Universidade de Copenhagen (Dinamarca).
Entendendo como o povo Mebêngôkre-Kayapó acessa e utiliza tecnologias, a pesquisa é conduzida diretamente nas comunidades utilizando a etnografia virtual. Esse método permite compreender os aspectos da sociabilidade no ciberespaço, a valorização da língua e as práticas culturais específicas. Além disso, são realizadas oficinas técnicas que fomentarão o debate crítico e o protagonismo na criação de narrativas próprias, também no ambiente virtual. Em todas as fases da pesquisa, a participação ativa da comunidade indígena é fundamental.
Também, além dos pesquisadores do observatório – Lucia Santaella (PUC-SP), Kalynka Cruz (UFPA), Denise Cardoso (UFPA) e André Lemos (UFBA) – o projeto inclui a participação de 14 membros na sua fase inicial. Esses membros são compostos por docentes, discentes e técnicos, tanto alunos de graduação quanto de pós-graduação.
O projeto “aterraAterra” tem como objetivo criar um audiovisual VR360 com aproximada mente 1/2 hora de duração, proporcionando uma representação abstrata e multisensorial da experiência de mergulhar e emergir no coração da Amazônia. Para concretizar essa vivência sensorial, utilizaremos dados coletados na Torre Atto, o Observatório de Torre Alta da Amazônia, uma parceria de pesquisa entre o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e o Instituto Max Planck, da Alemanha. Essa pesquisa se utiliza de uma torre com 325 metros de altura situada em um local remoto da Amazônia que tem a finalidade de monitorar e estudar o clima da Região Amazônica, coletando dados sobre os processos de troca e transporte de gases entre a floresta e a atmosfera, entre outros. Além dos dados obtidos na torre, iremos integrar informações coletadas por uma sonda inserida no poço de perfuração do projeto internacional de pesquisa “Transamazon Drilling” (TADP), do Instituto de Geociências da Universidade de São Paulo, Universidade de Minnesota e Universidade de Nebraska. O TADP é um projeto inovador que visa perfurar o subsolo da Amazônia em profundidades de até 1700 metros para documentar a evolução da biodiversidade da floresta e compreender como a evolução do ambiente físico (tectônica, clima, geomorfologia) moldou a geração, distribuição e preservação da biodiversidade neotropical. Assim, ao unir os dados desses dois extraordinários projetos científicos, teremos a possibilidade de criar um percurso audiovisual de cerca de 2 km, iniciando a 300 metros de altura sobre a copa das árvores e descendo até atingir a profundidade de 1700 metros no solo amazônico. Para intensificar a sensação de movimento nesse percurso, esses dados serão complementados pelos áudios capturados por meio de microfones especiais ambisonics, tanto na torre quanto na própria floresta, em alturas variadas, no elevador robótico durante sua movimentação e no processo de perfuração do poço. Ao final, esses dados serão transformados em elementos sonoros e representações visuais abstratas, sugerindo uma transição gradual de um ambiente gasoso para o ambiente da floresta e, posteriormente, para um ambiente subterrâneo, retornando paulatinamente ao ponto de partida. Como resultado, aterrAterra será uma experiência artística que pretende ampliar o debate filosófico sobre o Antropoceno e a divulgação das ciências naturais em ambientes diversos e transdisciplinares de forma simples, democrática e envolvente.
Transmedia communication methods and strategies: Education for sustainability
(projeto de cooperação internacional entre UFMG/Brasil e Jönköping University/Suécia – 2019 – atual)
O projeto aborda aspectos teóricos, empíricos e metodológicos da comunicação transmídia com foco em estratégias educomunicacionais voltadas para a sustentabilidade. O objetivo é compreender os processos de produção coletiva, distribuição multiplataforma e propagação algorítmica de conteúdos, com base em audiências conectadas. A premissa é que os processos transmídia de comunicação, associados a processos de ativismo transmídia, incrementam estratégias de educomunicação voltadas para o desenvolvimento de ações que promovam a sustentabilidade, a diversidade cultural, a responsabilidade social e a consciência ambiental. Consideramos que os processos de digitalização permitem e intensificam os intercâmbios globais e, ainda assim, expandem as desconexões sociais à medida que globalizam debates e soluções sem necessariamente considerar os diferentes níveis de acessibilidade, literacia digital e infra-estruturas da Internet em comunidades menos privilegiadas (Tárcia, Alzamora, Cunha, Gambarato, 2023). Tais discrepâncias refletem-se nos níveis de aprendizagem em contextos escolares, na inclusão social em processos contemporâneos de comunicação e, consequentemente, no desenvolvimento da sustentabilidade social e cultural, aspectos preponderantes em nossa abordagem de educação transmídia.
Com base nessa perspectiva, realizamos experimentos didáticos em escolas públicas de países de língua portuguesa (https://www.educacaotransmidia.com) e desenvolvemos estudos de caso sobre comunicação transmídia e sustentabilidade. São exemplos os estudos de: a) hashtags do Twitter relacionadas aos incêndios florestais na Amazônia em 2019, que revelam a disputa transmidiática entre identidades locais, regionais, internacionais e transnacionais (Alzamora, Gambarato, Tárcia, 2024); b) dinâmica transmídia de desinformação relacionada às queimadas na região da Amazônia em 2019 e em 2023, que dá continuidade ao estudo prévio sobre queimadas na região da Amazônia em 2019 (in progress).
Referências:
Alzamora, Geane C.; Gambarato, Renira R.;Tarcia, Lorena P.. #PrayforAmazonia: Transmedia Mobilisation within National, Transnational and International Identities. In: James Dalby, Matthew Freeman. (Org.). Transmedia Selves Identity and Persona Creation in the Age of Mobile and Multiplatform Media. 1ed.Londres: Routledge, 2024, v. 1, p. 161-178.
Alzamora Geane C.; Gambarato, Renira R.. Semiótica da desinformação: a dinâmica transmídia das queimadas na Amazônia (in progress).
Gambarato, Renira R.; Alzamora, Geane C.; Tárcia, Lorena P.. Theory, Development, and Strategy in Transmedia Storytelling. 1. ed. London: Routledge, 2020. v. 1. 176p.
Tarcia, Lorena P.; Alzamora, Geane C.; Cunha, Leo; Gambarato, Renira R.. Transmedia educommunication method for social sustainability in low-income communities. Frontiers In Communication, v. 8.
Comunicação Decolonial: por uma Semântica de um Habitar Ancestral
Marcelo Moreira Santos
Por quase vinte anos, a minha pesquisa se concentrou na compressão da Poética do Cinema e, depois, nos Ecossistemas Transmidiáticos. Porém, em 2018, fui convidado por um professor da Universidade de Leipzig para fazer um review do livro Screen Ecologies: Art, Media, and the Environment in the Asia-Pacific Region (2016), e, foi a partir desta experiência que comecei a querer estudar mais sobre o nosso impacto como seres humanos em nosso meio-ambiente.
Ao assistir o documentário Life in Syntropy[1] percebi a necessidade de se abordar a questão do aquecimento global sob o escopo da Comunicação. Assim, em 2021, ganhei uma bolsa de estudos, pela Faculdade Estácio de Campo Grande, para desenvolver uma pesquisa sobre eco-comunicação em agro-ecossistemas sintrópicos. Ao final deste estudo, notei que o modo de cultivo sintrópico entrava em concordância com as práticas agroflorestais indígenas, e que tal regime de sentido promovia a autonomia e sobrevivência destes povos ao longo de milênios.
O meu objetivo agora é analisar as relações sinérgicas pragmáticas complementares do habitar ancestral, isto é, o meu foco se debruça sobre os equilíbrios semânticos e sistêmicos dos ecossistemas auto-organizados, fruto de um cultivo semiótico indígena cuja finalidade está na manutenção e preservação das trocas sígnicas interespécies formando ambientes co-evolutivos, sucessionais e sinérgicos, fomentando a complexidade das organizações vivas.
Tal perspectiva tem um triplo enraizamento – termodinâmico/eco-biológico/agro-cultural – que parte do manejo ancestral da agrofloresta, como observado na Agricultura Sintrópica de Ernst Götsch, e transforma a eco-comunicação em práxis de reflexão complexa, isto é, ela se fundamenta em um movimento semiótico (Charles S. Peirce), sistêmico (Edgar Morin, Ilya Progogine, Humberto Maturana, Mario Bunge e Jorge Albuquerque Vieira), ecocêntrico (Malcom Ferdinand e Vandana Shiva) e indígena (John Mohawk, Airton Krenak e Davi Kopenawa), e abre espaço para a compreensão de que os ecossistemas produzem linguagens, signos, belezas, informações, significados, trocas, mediações, interpretações, comportamentos, rituais, costumes, alimentos, histórias, enfim, cultura (Jo-Ann Archibald, Margareth Kovach, Shawn Wilson, Kathleen Absolon, Linda Tuhiwai Smith).
Dramaturgia Sci-nestésica: Estéticas alienígenas da colisão de inteligências na obra A Caixa Preta or How to Hide the Turtle
Livia Machado
Este projeto de pesquisa de pós-doutorado propõe atuar na criação de dramaturgia da obra coletiva A Caixa Preta or How to Hide the Turtle – uma proposta imersiva, audiovisual, cênica e gamificada em três etapas: uma instalação audiovisual, um conjunto de aulas espetáculos e um jogo/videogame – a partir da aplicação do conceito de sci-nestesia, desenvolvido em tese, para pensar a diluição de fronteiras sensoriais na experiência estética com obras de arte que utilizam do digital para evocar diferentes sentidos.
O problema-raiz para a criação é a trágica queda do avião da Gol na terra indígena Capoto-Jarina em 2006, que matou todos os passageiros e gerou o deslocamento de comunidades inteiras após comunicação durante sonho por parte do líder indígena Mebêngôkre-Kayapó Raoni com o mundo dos espíritos.
O contexto mapa/arbóreo do projeto não é a catástrofe em si, mas as distintas sensorialidades que sugerem o entendimento da mente em perspectiva expandida e não-antropocêntrica de diferentes cosmovisões e materialidades em analogia com as tecnologias imersivas, lúdicas, digitais e da natureza e da tradução prática desse “entre” linguagens e mundos – museu, cinema, teatro, jogo – para espaços expositivos e interativos.
O projeto também propõe a elaboração da hipótese “estéticas alienígenas” para pensar as complexidades processuais, sensoriais e territoriais da colisão de inteligências e mundos: do avião e da floresta. Tal tensionamento emergirá da experimentação da obra, mas atuará para compreensão de hibridismos, choques, delírios, misturas de semiosferas. A obra envolve participação de artistas de diferentes países e é idealizada pela pesquisadora e diretora Janaina Leite.